Ela passou por mim usando um véu e um vestido branco, e eu
soube instintivamente que deveria lhe contar o segredo. Ainda não conhecia seu
nome, nem ao menos havia podido ver seu rosto nitidamente. Mesmo assim comecei
a seguir seus passos, pois era importante lhe contar.
Seguindo-a, fui levado a desertos onde vales e montanhas se
alternavam. Às vezes, deslumbrado pelo aspecto de uma paisagem, eu me esquecia do
segredo por alguns momentos. Mas logo retomava o caminho, pois ainda não tinha
lhe encontrado.
Caiu a chuva fina.
Apertei o passo, tentando me aproximar, mas foi em vão. Em
meu rosto, sentia um vento leve. Os desertos ficaram para trás, e agora
atravessávamos grandes campos gramados. Quando parei por um instante, tentando
calcular a imensidão desses campos, me dei conta de que não conseguia mais me
lembrar do segredo. Ainda assim, sabia que precisava encontrar aquela pessoa,
pois tinha algo a lhe dizer. Então, prossegui.
A chuva se intensificou. A brisa se transformou em vento
forte.
Deixamos os campos para trás. Estávamos agora em uma
floresta repleta de árvores e um rio. Eu já não andava, mas corria para
alcança-la, fazendo meu caminho por entre as clareiras. Quanto mais eu corria,
mais a chuva e o vento se tornavam impetuosos. Começaram a surgir relâmpagos. Inicialmente
eles caiam espaçados, mas não demorou para que viessem em ritmo frenético. E eu
não conseguia alcança-la.
O som dos trovões se misturava ao barulho ensurdecedor da
chuva caindo sobre as folhas, e à corredeira desenfreada do rio...
O Rio!
Agora, o Rio era o obstáculo. Lá estava ela, na outra
margem. Eu não tinha como atravessar aquelas correntezas, então parei. Ela
também parou.
Neste momento, o vento cessou, a chuva foi embora e o rio
desapareceu. De alguma forma, percebi que eles tinham sido necessários. Não
poderíamos nos encontrar antes daquele momento. Não poderíamos nos encontrar em
outro lugar. E eu não poderia alcança-la sem enfrentar as forças da natureza.
Dei alguns passos, ainda sem ver seu rosto. Me incomodava o
fato de não me lembrar mais o que eu deveria dizer. Mas o que isto importa? Eu
estava lá, havia vencido desertos, campos, chuvas, florestas, ventos, trovões.
Só o Rio eu não transpus, e isto coube a ela eliminar.
Continuei caminhando. Ainda não sabia o que dizer. Mas
talvez não fosse eu a falar. Quem sabe fora ela quem me trouxera até ali.
Estando bem próximo, ela se virou, retirou o véu e me contou o segredo.
* baseado em sonhos lúcidos
* baseado em sonhos lúcidos
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